Laboratório de Neurofarmacologia
O Malefício do Uso de Medicamentos Não Comprovados
Olá, inventores! Esperamos que todos estejam se cuidando e ficando em casa sempre que possível.
Hoje viemos falar com vocês um assunto que está em alta nos canais de notícias, o uso de medicamentos sem comprovação científica! Com um olhar científico vamos explicar os malefícios de utilizar um medicamento em excesso e consumir um remédio que não tem efeito comprovado para determinada doença.
Por exemplo, o Kit Covid que consiste, principalmente, nos medicamentos: cloroquina/hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. Que, respectivamente, são utilizados para tratamento de malária, parasitas e bactérias.
Após um ano da explosão da pandemia de SARS-CoV-2 no Brasil e diversos estudos (1) provando que esses medicamentos não têm eficácia contra o vírus causador da Covid-19 nem como tratamento preventivo para a doença, ainda é possível ver o uso desenfreado de tais remédios.
Vamos entender o que acontece com as drogas dentro do nosso corpo?
A maioria dos medicamentos passa pelo fígado, órgão principal para metabolizá-los (onde irão acontecer alterações químicas) antes de serem excretados do corpo pela bile ou urina. O fígado metaboliza os medicamentos por meio de um grupo de enzimas (proteínas que aceleram as reações no organismo) do citocromo P-450. A quantidade dessas enzimas determina a velocidade que os medicamentos serão transformados.
Todavia, as enzimas possuem uma capacidade máxima de metabolização, assim podendo ser sobrecarregadas quando os níveis sanguíneos de um (ou mais) medicamento ficam altos. Assim, quando há um consumo excessivo de qualquer medicamento, o seu corpo não consegue quebrar tudo e eliminar o excesso, fazendo com que o remédio fique mais tempo atuando no seu organismo. E quando se trata de um remédio para algo que você não está doente, é possível que seu metabolismo reaja de uma forma negativa e desenvolva uma hepatite medicamentosa (degeneração do fígado).
“Muitas substâncias (como medicamentos e alimentos) afetam as enzimas do citocromo P-450, assim como o envelhecimento que faz com que a capacidade do fígado para metabolizar reduza-se em ≥ 30%, em virtude da redução de volume e fluxo hepático . Se essas substâncias diminuem a capacidade das enzimas de quebrar um medicamento, os efeitos deste medicamento (inclusive os efeitos colaterais) serão aumentados. Se as substâncias aumentam a capacidade de as enzimas de quebrar um medicamento, os efeitos deste medicamento serão reduzidos.” (2)
Quando se toma um coquetel de remédios é preciso ter certeza que não ocorra interações prejudiciais entre eles como é o caso, por exemplo, do uso concomitante da hidroxicloroquina e azitromicina que pode potencializar o risco de danos cardiovasculares. Nem sempre o efeito de uma interação medicamentosa pode ser visível e cada paciente reage à sua maneira. Alguns estão mais propensos a evidenciar interações adversas, como os idosos, os insuficientes renais, hepáticos, cardíacos e respiratórios e várias outras doenças. Além disso, também deve-se considerar os fatores que possam interferir na atuação dos medicamentos, como o estado nutricional do paciente e as características genéticas do indivíduo.
Nós, cientistas, gostaríamos muito que existisse um medicamento que promovesse um tratamento precoce para a Covid-19. Por enquanto, o melhor tratamento precoce é utilizar máscara FFP2, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool 70% e, se possível, ficar em casa.
2. Metabolismo de medicamento - Medicamentos - Manual MSD Versão Saúde para a Família